O desabafo de uma aluna sobre os exames nacionais que se tornou viral em 2015

Numa altura em que os alunos de todo o país recordam e decoram, a todo o vapor, a matéria de dois ou três anos de escolaridade, o SobreTudo recorda um texto de desabafo de uma aluna, dirigido ao Ministro da Educação, no ano de 2015.

Olá, Exmº Dirigente do Ministério Português da Educação.

Fico grata pelo simples acaso de ter aberto o meu e-mail.

Considerei que um “Olá” sincero de mais uma aluna (ou vítima, como quiser chamar) do ensino português era uma boa maneira de começar este e-mail que é tão informal na sua formalidade.

Sabe que, já passaram 11 anos desde que entrei no sistema de ensino português e não houve um único ano em que o palavrão, “EXAME”, não surgisse numa aula. Na maior parte das vezes podia ouvir a professora preocupadíssima a perguntar “Vais escrever isso no exame?!” depois de ler uma resposta errada no livro de fichas.

Sabia, Senhor Ministro Nuno Crato, que há alunos com menos de 10 anos a ser expostos à febre dos exames? Desculpe-me a ignorância, esqueci-me que existem os Exames de 4º ano aliados às recentes provas do 2º ano. Até parece surreal.

Sou a Leonor, tenho 16 anos e aos 14 tive um esgotamento nervoso. Motivo? Exames.

Mas quem me dera que o meu caso fosse apenas um caso isolado, podia ser eu que não sabia lidar com a pressão… Só que há pior, bem pior. Há crianças que visitam regularmente o psicólogo para controlar o stress que já sentem por causa da escola e do bicho de sete cabeças que são os exames.

A verdade é que já sou crescidinha, já não tenho dores de barriga antes dos testes e não vomito antes de fazer exames. 11 anos e 6 exames depois, estou aqui! Sobrevivi mas estou cansada. Eu estou cansada, os professores estão cansados, os funcionários estão cansados, estamos todos cansados. Cansados de acordar às 7h00, sair às 7h30, entrar às 8h00, sair às 18h00. Acordar às 7h00, sair às 7h30, entrar às 8h00, sair às 18h00. E repete-se, repete-se até estarmos todos tão cansados que nem a ambição de enveredar pelo ensino superior nos sustenta.

Senhor Ministro, não pretendo pedir-lhe que acabe com os exames porque, mesmo que seja essa a vontade de todos, neste país, a voz do povo não conta, nunca contou e não é porque eu estou a mandar-lhe este e-mail que vai passar a contar mas peço-lhe que reflita comigo, passamos 12 anos a estudar e é inevitável chegarmos a uma altura em que todos gritamos em surdina, “Chega!”. Passamos 10 meses na mesma escola, dentro da mesma sala com os mesmos colegas e com os mesmos professores e duas semanas depois do fim das aulas tenho que manter a rotina porque vou fazer um exame. Para quê? Porquê?

Eu tenho sonhos, senhor ministro. Deixe-me sair da sala para os poder concretizar. Por favor.

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