Entrevista: Luís Aleluia

O ator Luís Aleluia recorda o seu percurso profissional e o seu sucesso na série «As Lições do Tonecas» e anuncia o seu regresso à televisão. Hoje é o protagonista desta entrevista no SobreTudo.

1. Quem é o Luís Aleluia?
Sou uma pessoa comum,  igual a todas as outras mas mais exposto pela profissão que escolheu. Tenho dias felizes e outros menos, as mesmas preocupações sociais e familiares que todos!

2. Como nasceu a sua paixão pela representação?
A paixão veio por acréscimo! Foi-se entranhando aos poucos. Ao princípio, com os meus 18 anos o Teatro apareceu como uma oportunidade de ganhar dinheiro enquanto estudava. Eu queria, na altura seguir o curso de Direito. Mas depois... fui ficando... ficando. De uma peça de teatro, saltei para outra, os desafios foram-se colocando e acabaram por me alterar os projetos de Vida que eu tinha.

3. Iniciou a sua carreira no Teatro Animação de Setúbal. Que memórias guarda desses tempos?
As melhores. O TAS - Teatro Animação de Setúbal, foi a minha escola, foi onde aprendi e trabalhei com os primeiros atores profissionais da minha carreira. Jamais me poderei esquecer da Luísa Barbosa e do ator Carlos César, que era um dos fundadores e o Diretor da Companhia. Foi, aliás, o Carlos César o responsável por eu ter enveredado por esta profissão e à Luísa Barbosa devo o «trazer-me» para Lisboa e apresentar-me os outros colegas que acabaram por ter muita incidência na minha vida carreira.

4. No ano de 1988, o público fica a conhecê-lo nas séries «Sétimo Direito», «Os Homens da Segurança» e na telenovela «Passerelle». Foi uma estreia televisiva feliz?
O meu trabalho de televisão foi com uma pequena participação na série «Os Homens da Segurança». Foi onde conheci alguns atores que foram muito importantes na minha vida profissional: o Nicolau Breyner e o Henrique Santana com que haveria de trabalhar na primeira série onde fui protagonista o «Sétimo Direito». Seguiram-se depois outros trabalhos de relevo que me enriqueceram bastante e aperfeiçoaram tecnicamente posso dizer que foi um início auspicioso!

5. Em 1991, funda a produtora Cartaz - Produção de Espetáculos. 25 anos depois, que balanço faz do seu projeto?
Um balanço positivo. Ao longo deste tempo cumprimos os objetivos iniciais, recuperar a itinerância teatral. Esse trabalho excedeu largamente as expectativa porque, dada o mediatismo do programa «As Lições do Tonecas», podemos levar o nosso teatro também aos nossos emigrantes, sobretudo às comunidades radicadas aqui na Europa e também, Canadá e USA.

6. A série «As Lições do Tonecas» marcou a sua carreira. Como justifica o sucesso da série e da sua personagem?
«As Lições do Tonecas» já traziam um embalo de sucesso, quer literário quer da rádio. Muita gente cresceu a ler os diálogos do José de Oliveira  Cosme e que eram bastante divertidos. Trazer esse produto para a televisão foi uma aposta que excedeu as expectativas de todos. Veja que a primeira encomenda foi de apenas 13 episódios que resultaram num extraordinário e inesperado sucesso popular. O formato era divertido com uma linguagem muito acessível e direta. Tornou-se um programa familiar e transversal. A estrutura é baseada na fórmula simples do confronto entre o parvo e o esperto. Repetida tantas vezes no teatro e no cinema e que agrada sempre: o bucha/estica, palhaço rico/palhaço pobre.

7. Dezassete anos depois, o Luís participou na série «Bem-vindos a Beirais», que conquistou sucesso em horário nobre. Ainda hoje continua sem entender o fim da série?
O fim da série «Bem-vindos a Beirais» entende-se por critérios de programação. Mudou a equipa de direção de programas e é legítimo que queira implementar o seu modelo de grelha de programação e fazer uma gestão mais pessoal. O que por vezes acontece é essa visão particular não coincidir com as preferências da audiência da estação que se está gerir e foi o que aconteceu. Acabaram por optar em repetir a série durante a tarde e, para espanto de muita gente, continua com audiências significativas. Já o prime-time que chegou a ter mais de um milhão de espectadores, está bastante deficitário! Quanto ao fim da série, tudo tem um princípio e um fim, até para se poder fazer coisas novas e tornar o serviço público de televisão mais eclético.

8. Numa entrevista, o Luís disse que a RTP «é um serviço público armado ao fino». Porquê?
A frase foi retirada de contexto. É preciso ler a entrevista e perceber que fui buscar a frase a um programa, curiosamente também da RTP, o «Sabadabadu», onde a Ivone Silva e o Camilo diziam-na. Um serviço público que não serve muito público não me parece que esteja certo (ou então mudem-lhes o nome) não me convence a ideia de que as empresas públicas tem de dar prejuízo: é possível fazer bem, servir toda a gente e tornar rentável o empreendimento! Se a televisão desse lucro, escusávamos de pagar taxas e já não digo distribuir os dividendos pelos accionistas (que, neste caso somos todos nós) mas os proveitos poderiam ser aplicados na cultura. Em subsídios ao teatro e ao cinema ou na recuperação de património do Estado, que boa parte dele está a cair de podre.

9. O Luís está há três mandatos como diretor da Casa do Artista. Que experiências retira da convivência com os artistas de outras gerações?
Tenho um profundo respeito por todos. Não são só artistas de teatro e da televisão que estão na Casa do Artista. Temos residentes de várias áreas performativas e de diversas atividades. E todos eles têm uma história pessoal, única e de extraordinária riqueza que nos preenche e orgulha. É um prazer conversar e aprender e até, em alguns casos, seguir os seus conselhos.

10. Quais são os seus atuais e próximos projetos?
Em termos profissionais os projetos incluem a continuação do trabalho que tenho vindo a desenvolver. Uma nova peça de teatro e uma série para a televisão, de que ainda não posso adiantar muito. Em termos pessoais, continuar esta busca de ser feliz com uma família maravilhosa com a ajuda dos amigos que nos mimam e apoiam!

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