Júlio Isidro celebra 65 anos de carreira
Júlio Isidro, de 80 anos, tem motivos para festejar: completa, esta quinta-feira, 16 de janeiro, 65 anos de carreira dedicados à televisão: «O dia 16 de janeiro de 1960 era um sábado. O jovem Júlio Isidro do Carmo (naquele dia ainda me deixaram usar nome e dois apelidos) estreava-se na televisão. Ia de calças cinzentas, blazer azul com botões dourados e sapatos de camurça. Claro que de camisa e gravata. Um detalhe, o casaco e os sapatos eram do meu primo Mário José, mais ou menos o mesmo corpo, mas calçava dois números acima do meu. O jovem que inicialmente, e depois de provas se tinha saído a contento, seria recusado por ser feio, ali estava no estúdio 1 da RTP a apresentar o Programa Juvenil, o texto todo empinado, mas de papéis na mão, para o que desse e viesse. Apresentei o programa onde também cantei (?!) já que era um modesto segundo tenor no Orfeão do Liceu Camões. Nem sei se correu bem o meu trabalho, porque não havia gravações de vídeo, quer dizer, ainda não havia vídeo e os aparelhos de TV não faziam parte dos electrodomésticos de todos os lares portugueses», começou por recordar no Facebook.
«(...) Sessenta e cinco anos a trabalhar quando há tanta reforma antes deste meu tempo ativo. (...) Trabalho para a RTP, em regime vitalício sem nunca ter sido funcionário desta casa que me acolheu sempre à consignação. Na qualidade do mais antigo, sou também o campeão da precaridade do país. Consta que na Europa não há nenhum autor/inventor de ideias/apresentador e mais coisas com o meu tempo de ofício. Preparo-me portanto, para um lugar embalsamado num qualquer museu de televisão. Tenho relações de cordialidade com os mais antigos desta minha casa, mas também com os mais novos (que por cultura histórica sabem quem eu sou) cheios de sonhos no futuro, e que acham graça ao tio Julião. (...)», prosseguiu.
«(...) Este dia 16 será mais um princípio, a caminho do fim porque tudo o que começa… acaba. Isso das árvores morrerem de pé é uma peça de teatro que nunca terei qualidade para protagonizar. Uma garantia: vou continuar a fazer o que sempre fiz, a tentar melhorar sempre e nunca fazer batota com tantos que confiaram em mim milhares de horas de convívio, de entretenimento saudável e creio que inteligente. A televisão em Portugal só é mais velha do que eu dois anos e picos. Estava lá há 65 anos e ainda vou estando. O the end, plano geral, o ator vai caminhando a caminho do horizonte, onde uma luz brilhante o faz desaparecer dos olhos do espectador, chegará um dia que não decidi nem adivinho… mas pressinto. E pergunto-me: se eu não tivesse nascido para isto? Agora, mais de seis décadas e meia consumidas, restava-me uma enorme angústia de não poder rebobinar o filme para começar tudo de novo», acrescentou.
«Apesar de algumas interrogações existenciais, de fragilidades que não consegui ultrapassar, de passos errados, alguns para trás, resta-me a confiança que deposito no que faço, sem exibicionismos, vedetismos, demasiadas ambições e atitudes elitistas. Sou como era no dia 16 de Janeiro de 1960... e serei sempre assim», garantiu o decano apresentador.
Comentários
Enviar um comentário