Especial: «Palavras Cruzadas» - 30 anos

12 de janeiro de 1987. A RTP1 estreava, pelas 20 horas e 30 minutos, a sua quarta telenovela: «Palavras Cruzadas». Trinta anos depois, o SobreTudo recorda a telenovela e disponibiliza entrevista com três atores do elenco.

Sinopse:
O enredo desta novela gira em torno da vida de três famílias portuguesas de diferentes estratos sociais, que acabam por se conhecer e cruzar quer profissionalmente, quer por via dos dramas amorosos e financeiros que se vão sucedendo com o desenrolar da intriga. São elas: a família Salgado, da alta burguesia; a família Rebelo, da baixa burguesia, e a família Ramos, pequenos comerciantes. Paixões não correspondidas, morte, doenças, bons e maus casamentos e lutas entre famílias de estratos diferentes são os ingredientes desta telenovela.

Elenco:
    Os protagonistas de «Palavras Cruzadas»
  • Adelaide João - Angelina
  • Alexandra S. Pereira - Teresa Pereira
  • Álvaro Faria - Francisco Salgado
  • Angela Ribeiro - Henriqueta Ferreira
  • António Miguens - Miguel Rebelo
  • Armando Cortez - Filipe Rebelo
  • Asdrúbal Teles - Joaquim Ribeiro
  • Carlos César - Óscar Ramos
  • Carlos Costa - Padre
  • Carmen Mendes - Lucinda Lopes
  • Célia David - Mina Ramos
  • Clara Rocha - Carlota Correia
  • Cláudia Cadima - Fátima Alves
  • Cristina Oliveira - Alice Travessa
  • Curado Ribeiro - D. Diogo
  • David Silva - Daniel Mota
  • Duarte Victor - Alberto Reis
  • Eduardo Viana - José Manuel Correia
  • Fernanda Coimbra - Maria Amélia
  • Fernando Mendes - Felisberto
  • Filomena Gonçalves - Joana Alves
  • Gonçalo Ferreira - Rui Salgado
  • Guy Marle - Dioguinho
  • Henrique Santos - Aníbal Arcos
  • Hermínia Tojal - Alda Azevedo
  • Isabel Gaivão - Betina
  • Isabel Mota - Albertina Meira
  • Jacinto Ramos - Luís Salgado
  • João Manuel - Alberto Reis
  • Jorge Nery - Paulo Silva
  • José de Carvalho - Pompeu Araújo
  • Lia Senna - Maria Laura Meneses
  • Luís Esparteiro - Bernardo Mendonça
  • Luís Mata - Mário Alves
  • Luísa Barbosa - Julieta Silva
  • Manuel Maria - Pedro Vasco
  • Manuela Carlos - Anabela Alves
  • Manuela Maria - Lurdes (Dubois) Ramos
  • Manuela Marle - Isabel Salgado
  • Maria João Lucas - Margarida Sampaio
  • Morais e Castro - Simão Pinto
  • Natalina José - Rosa Ramos
  • Nicolau Breyner - João
  • Rita Ribeiro - Marta Rebelo
  • Rodrigo Guedes de Carvalho - Vítor
  • Rosa do Canto - Rosário
  • Rosa Lobato de Faria - Helena Salgado
  • Rui Luís - Osvaldo Moreira
  • Tareka - Sofia Rebelo
  • Tozé Martinho - João Salgado

Curiosidades:
  • «Palavras Cruzadas» foi a primeira produção da Atlântida Estúdios, produtora de Tozé Martinho (que interpretava a personagem João Salgado). Foi escrita por Ana Maria Magalhães, Ângela Sarmento (pseudónimo de Tareka), Céu Roldão e Isabel Alçada e foi realizada por Nicolau Breyner.
  • As gravações, em décors fixos, decorriam no estúdio que foi construído no último andar do Teatro Capitólio, no Parque Mayer. Algumas cenas de exteriores foram gravadas em Barcelos, Póvoa de Varzim, Salvaterra de Magos e Macau. Aliás, a Residência Faria Mantero (Restelo) e o Centro Comercial das Amoreiras serviam de fachadas das casas da família Salgado e Rebelo.
  • O jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho fez uma participação especial nesta telenovela como ator, interpretando Vítor, um dos membros da quadrilha de contrabando de jóias. Também o pintor Aristides Ambar surgiu em algumas cenas.
  • Elizabeth Sala era a voz do genérico inicial, que se tornou um êxito e a cantora passou a incluir a música nos seus espetáculos.
  • Embora o sucesso, a telenovela foi alvo de muitas críticas por parte da imprensa. Alguns anos mais tarde, Tozé Martinho revelou que «Palavras Cruzadas» foi a telenovela que mais dinheiro deu à RTP.
  • A telenovela foi reposta em 1989 e 1996, na RTP1, e regularmente, na RTP Memória.

Entrevistas
Álvaro Faria (Francisco Salgado) | António Miguens (Miguel Rebelo) | Cláudia Cadima (Fátima Alves) | Jorge Nery (Paulo Silva)


1. Como surgiu a oportunidade de integrar esta telenovela?
Álvaro Faria (AF) - Simplesmente, fui convidado. Já tinha uns anos de teatro e experiência de televisão, incluindo várias peças (na época, eram habituais) e a participação, fazendo parte do elenco fixo, na telenovela «Origens».

António Miguens (AM) - Foi há mais de 30 anos. É difícil precisar neste momento qual o acontecimento chave para surgir o convite para a minha participação em «Palavras Cruzadas». Naquele tempo a dança vivia tempos interessantes, especialmente a dança em produções de entretenimento na RTP (a única estação de televisão). Eu, entre os bailarinos, era dos mais populares, tinha diversas participações no «1, 2, 3», de Carlos Cruz, e já tinha rondado os bastidores de produção das telenovelas que ora despontava, em uma ou duas audições. Talvez tenha sido o mais decisivo o facto da atriz Cristina Oliveira, muito amiga da minha tia Alice (já falecida) em conversa numa pastelaria de Massamá ter referido que a próxima telenovela estaria a procurar um ator que soubesse dançar. Daí até fazer um teste de imagem com o Tozé Martinho, Carlos César (diretor de atores) e Nicolau Breyner (realizador) no topo do Teatro Capitóio foi um pequeno passo. Fui imediatamente aceite.

Cláudia Cadima (CC) - Se bem me lembro, foi o Tozé Martinho que me convidou, provavelmente por me ter visto a fazer outros trabalhos antes desta novela.

Jorge Nery (JN) - Esta oportunidade surgiu de um convite do Tozé Martinho.

2. Recorde-nos a sua personagem.
AF - Era o Francisco Salgado. Os atores da minha família eram a Rosa Lobato de Faria, o Jacinto Ramos (pais), o Tozé Martinho, a Manuela Marle e o Gonçalo Ferreira (irmãos). As atrizes que fizeram de minhas namoradas foram, por ordem, a Maria João Lucas, a Filomena Gonçalves e a Célia David (e de novo a Filomena Gonçalves, para acabar a história).

AM - Miguel Rebelo era um bailarino despreocupado que vivia no então empreendimento das Amoreiras, com uma irmã mais velha, e pais abastados. O pai era empresário de uma empresa de transporte e a mãe dona de uma boutique no Centro Comercial das Amoreiras. Simplesmente isto.

CC - A minha personagem chamava-se Fátima Alves. Era filha do casal Anabela (Manuela Carlos) e Mário (camionista, feito pelo Luís Mata). Tinha uma irmã, a Joana (Filomena Gonçalves). Lembro-me que a Fátima também tinha uma paixão pelo futebolista da novela.

JN - A personagem, era o Paulo, um funcionário da empresa gerida pelo Armando Cortez e pela Rita Ribeiro que fazia de sua filha. Era uma personagem simpática e acompanhou a novela desde o início até ao fim. Gostei de fazer o Paulo.

3. Como foi dar vida a essa personagem?
AF - Foi muito interessante, porque a personagem passou por várias fases. Houve, portanto, uma evolução, o que me permitiu trabalhar em registos bastante diferentes. Desafios desse género são sempre gratificantes para os atores.

AM - Era um personagem muito indefinido. Com pouca profundidade psicológica. Talvez a criadora da história Tareka/Ângela Sarmento (mãe de Tozé Martinho) esperasse um pouco que o ator que viesse a interpretar o personagem o fosse compondo fazendo o personagem "crescer" com o andar do processo de produção. Dantes isso era possível. Julgo que o personagem estava feito para não aparecer em mais do que uns dez episódios, em 120. Mas o certo é que o Miguel Rebelo permaneceu em toda a novela. Claro que tive bons mestres, a começar pelo "meu pai" Armando Cortez, para além de Curado Ribeiro, Nicolau Breyner, o Carlos César. Ainda que eu tenha tido uma participação na novela superior ao que inicialmente se previa, não acho que me tenham dado grandes oportunidades. Mas isso foi outra história.

CC - Do que me lembro das gravações, tínhamos um ambiente fantástico. Em Portugal, nós os atores estávamos a começar a fazer novelas, por isso era um mundo novo, completamente diferente do teatro, onde tínhamos muito tempo para trabalhar as personagens. Neste mundo televisivo novo, tudo era mais espontâneo. Foi uma mudança muito interessante e aliciante.

JN - Dar vida ao Paulo foi relativamente fácil, porque Portugal, tinha muitos "Paulos", espalhados pelas empresas da época, bastou analisar o comportamento de alguns amigos que trabalhavam nos vários escritórios que eu conhecia. Claro que dei o meu cunho pessoal como ator.

4. Já passaram trinta anos. Que recordações guarda das gravações?
AF - Foram alguns meses de trabalho que me deixaram belas recordações. O ambiente era magnífico, entre atores, técnicos e as equipas de realização e de produção. Em grande medida, isso deveu-se ao Nicolau Breyner, o realizador, que incutiu em todos um espírito de boa disposição, sem que, com isso, se perdesse o elevado profissionalismo.

AM - Sim, já passaram mais de trinta anos e tenho inúmeras recordações. Imensas. Vou transmitindo muitas delas aos meus alunos e filhos. Eu era o único jovem entre grandes figuras do Teatro e da Televisão daquele tempo. Recordações de com pouco se pode fazer muito porque os meios técnicos eram mais que rudimentares. Recordações de situações mais que hilariantes, que me fizeram aprender imenso. Recordo-me, por exemplo, que as gravações tinham que parar quando passava um avião sobre o Parque Mayer.

CC - Pois é... 30 anos! É muito tempo. O que recordo mais é o facto de ter sido a primeira produção feita pela Atlântida, e na altura, como não havia ainda condições no que foram mais tarde os estúdios desta produtora, a novela foi gravada no antigo teatro Capitólio, no Parque Mayer. Lembro-me da cumplicidade que existia nos núcleos das famílias, e, portanto, no meu também. Por causa desta personagem, até há uns tempos atrás, algumas pessoas julgavam que o meu nome era mesmo Fátima. É elucidativo da importância que as novelas de produção nacional já tinham na altura.

JN - Sim passaram trinta anos... e tenho gratas recordações de todo o elenco, do Nicolau, como realizador, do Tozé e de tantos colegas que infelizmente, foram fazer uma viagem até às Estrelas... e já não estão connosco. Tecnicamente, era uma diferença abismal... mas resultava sempre... e claro, era 30 anos mais novo!







Algumas curiosidades retiradas do site Brinca Brincando

Comentários