Entrevista: Dicla Burity

Um mês depois da sua saída do «Biggest Deal», Dicla Burity faz um balanço da sua estadia no programa da TVI, das críticas aos reality shows, do seu percurso profissional e revela os seus planos para o futuro. Hoje é a protagonista desta entrevista no SobreTudo.

1. Quem é a Dicla Burity?
Sou eu, uma menina divertida repleta de sonhos, moldada em experiências, que gosta de desafios e é viciada em crescimento. Uma alma livre vibrante e positiva. Uma artista da vida toda.

2. Como nasceu a sua paixão pela representação e pela comunicação?
A representação e a comunicação cruzaram-se imensas vezes na minha vida. Venho de uma família de natos e ativos comunicadores nas mais diversas áreas sociais e igualmente de exímios artistas, portanto já faz parte do meu ADN. Muito nova me experimentei no teatro, no desporto e também na apresentação de espetáculos académicos. Aos 19 anos, resolvi largar tudo para agarrar a oportunidade de entrar profissionalmente para o mágico mundo da televisão, formei-me na área e me descobri absolutamente fascinada, é o que faço há já 18 anos.

3. Foi a protagonista de «Vidas Ocultas», a primeira minissérie angolana. Que recordações guarda desse projeto?
Um marco histórico, ser atriz principal da primeira minissérie angolana com argumento do ilustre escritor Pepetela e logo a seguir, estrear-me como a protagonista da primeira telenovela angolana «Reviravolta» de 105 capítulos. Não podia esperar mais. Muitas memórias destas produções pioneiras, afinal estava a realizar o meu sonho e com ele a fazer sonhar milhares de meninas angolanas e a fazer parte da história da teledramaturgia do meu País para sempre. De oficinas de atores onde aprendi a representar, a de ser dirigida por dois grandes monstros da realização de Angola e do Brasil, respetivamente, Tomás Ferreira e Reynaldo Boury. Foram só honras. Hoje, apesar de já ter feito vários outros personagens ainda me chamam 'Celina da Reviravolta'. Ficou marcada para mim e para o público, a eterna Celina.

4. A sua carreira televisiva passou, maioritariamente, pela ficção e entretenimento da TPA. Como analisa o seu percurso no canal mais importante de Angola?
Foram os anos mais importantes para a minha estrutura profissional em televisão. A TPA foi a minha primeira oportunidade e a escola onde aprendi e pratiquei TV. Do estrondoso sucesso na ficção aos programas de entretenimento em prime time foi a telinha mágica através da qual o grande público conheceu o meu talento. E a TPA Internacional deu ainda mais abrangência. Sou muito grata à TPA e às pessoas que sempre apostaram no meu potencial artístico e comunicativo. É tudo parte de uma bela trajetória.

5. A Dicla também passou pela rádio e pelo jornalismo. Pondera voltar a trabalhar nessa área?
Sim, fiz por mais de sete anos rádio na Nacional de Angola. Alguns deles como jornalista e outros como locutora de um programa de entretenimento com editorial voltado à diversão educativa o que me rendeu experiências valiosas no mundo da comunicação. Foram um pilar na pratica da dicção, do improviso, do posicionamento de voz e do rápido raciocínio que usei igualmente em TV. Estou ansiosa para aliar a rádio aos meus trabalhos. Vou voltar como locutora e produtora de um programa inovador, super personalizado e dar um cunho diferenciado às ondas hertzianas.

6. É a cara do «Big Brother Angola». Qual é a sua opinião sobre os reality shows e como reage às críticas ao programa?
Sou suspeita para falar. Sempre fui fã de reality shows, mesmo antes de os apresentar. Vejo vários, dos britânicos aos brasileiros, nos diferentes formatos que migraram do original «Big Brother» holandês. Nem todos me agradam, mas, são todos um extrato da sociedade onde são produzidos. Acho uma experiência fantástica a ideia de ver o ser humano sob essa perspetiva, uma experiência científica até, que para muitos resulta como aprendizado e para outros nem tanto. É como a vida, uma amostra do mundo com pessoas diferentes (personagens da vida real) num ambiente fechado e controlado para todo mundo ver e cada um tirar as suas ilações. Portanto nada consensual, entenda-se. Tal e qual. Atualmente os formatos servem a diferentes propósitos, tal como o Biggest Deal que inovou trazendo o lado empreendedor solidário aliado à experiência social levando ao grande público um conteúdo diferente e concorrentes atípicos desse tipo de show. A verdade é que para lá das críticas e de nem todos assumirem vê-los ou gostar deles, os reality shows continuam a gerar grande interesse do público. Tornaram-se nas nossas novas novelas da vida real. É um enorme prazer apresentar o grande show que é o «Big Brother Angola».

7. Tornou-se conhecida do público português em «Biggest Deal». Que balanço faz da sua estadia? Ficou surpreendida com o cancelamento do programa?
É verdade, fui apresentada à grande maioria do público português no «Biggest Deal». Foi uma ótima experiência, um enorme desafio, super diferente do que já fiz na vida, mas, isso já é a minha marca registada. Tive o prazer de viver com 15 artistas que desconhecia, mas, com quem me diverti muito, cantei, dancei, meditei, gritei, aprendi, ensinei, desenhei, cozinhei, brinquei, sorri e chorei, superei-me... venci-me! Fiz amigos, trabalhei, contribui para as causas, dei a conhecer a minha cultura, vivi a cultura que sempre me foi próxima, a portuguesa. Senti-me em casa. Mostrei-me da forma mais vulnerável possível para os que só me viam sob os holofotes dos palcos, programas ou novelas. Explorei várias apetências artísticas. Fui muito feliz na casa do «Biggest Deal», foi um óptimo desafio que sinto ter superado. Como presente recebi o imenso carinho do público português e o apoio de Angola. Sobre ter acabado, «Nada acontece por acaso». Fizemos a nossa parte, plantámos uma sementinha.

8. Quais são as principais diferenças entre ser apresentadora e ser concorrente de um reality show?
Ui... todas. Para começar a Dicla apresentadora teria uma postura completamente diferente em relação ao programa, outro ponto de vista e perspetiva, o que tornou a ideia de participar tão aliciante. A partir do momento em que aceitei o desafio de entrar para a casa era eu, só eu, a Dicla artista que queria viver também a experiência social e entender como ela consegue lidar com todas as limitações de estar confinada. Longe da família, do amor, da equipa de trabalho do telemóvel, do “habitat”, da zona de conforto. A Dicla que queria fazer negócios aprender com eles e contribuir. Como resultado disso devo ter me tornado na primeira apresentadora de reality show que tem os dois lados da moeda, percebo perfeitamente como funciona também para os concorrentes. É lindo ter essa noção, é único, pretendo usar esse conhecimento.

9. Quais são os seus atuais e próximos projetos profissionais?
Nesse momento estamos a trabalhar no lançamento do meu website, que está a ficar lindo e convidativo. Estou no ar como convidada de um programa de humor angolano, com os Tunesa. Terminei a segunda temporada do «M’bora Dividir», um concurso de sucesso que apresento para o canal Mundo Fox. Tenho o meu primeiro livro na forja. E ainda, muita coisa por acontecer, tínhamos posto no 'pause' algumas propostas para que fosse possível fazer o «Biggest Deal», estamos a revê-las. E das várias ideias que surgiram dentro da casa, escrevi uma peça que pretendo estrear. Será o meu segundo argumento em teatro. Quero voltar  a representar. Quero fazer o meu grande programa de TV e de rádio. E fazer mais coisas para a TV portuguesa faz igualmente parte dos meus planos.

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