Aumento salarial de Fernando Mendes gera revolta na RTP

Conforme noticiado, Fernando Mendes vai passar a ganhar 20 mil euros mensais, tornando-se o apresentador mais bem pago da RTP. A Comissão de Trabalhadores da estação pública não gostou e emitiu um comunicado na passada quinta-feira, dia 20 de setembro:
E OS TRABALHADORES?
Nos últimos meses, o chamado "mercado" da televisão entrou numa filosofia de tipo futebolístico na sequência da transferência de uma célebre apresentadora entre dois canais privados por verbas difíceis de entender. Pensou-se que a RTP, que presta um serviço e não vende coisas, rejeitando lógicas comerciais, como diz o seu presidente, estivesse imune a este tipo de loucuras, mas a verdade é que esta manhã a imprensa anunciou a renovação contratual da RTP com um dos seus apresentadores em valores que podem chegar aos 20 mil euros por mês.
Para a Comissão de Trabalhadores não está em causa a avaliação do merecimento destes valores ou outros quaisquer por parte de um profissional de televisão que decerto os merece, o que está em causa o tratamento justo e equitativo daqueles que dão tudo pela RTP todos os dias, os seus trabalhadores.
É que não existem aumentos na RTP há 10 anos.
A RTP vive uma situação de recursos humanos que só pode ser descrita como desastrosa. A idade média dos trabalhadores no quadro efectivo é de 49.9 anos, grande número deles abandonou a empresa nos últimos anos, mais de metade dos que ficaram exerce funções acima do seu descritivo funcional, sem serem pagos para isso. A RTP mantém centenas de trabalhadores em situação de prestação de serviço que já deveriam ter sido integrados.
O diálogo social, que era apanágio da RTP é agora quase inexistente, os pedidos de reenquadramento dos trabalhadores são respondidos com "cartas-forma" e depois esquecidos por meses a fio, como se aqueles que deram tudo de si à empresa por mais de 30 anos se tenham transformado agora num incómodo, uma chatice. Os quadros e a distribuição de profissionais tornou-se uma confusão generalizada com serviço após serviço, com trabalhadores com categorias e tabelas diferentes, a fazer as mesmas tarefas. Para todos estes problemas tardam soluções mas sobram desculpas.
Nos últimos meses, a CT tem reunido com o recém-empossado Conselho de Administração repetindo sempre dois temas, a degradação técnica da RTP e os recursos humanos e fazendo em todas as reuniões a mesma pergunta: Para quando os reenquadramentos de 2018?
A resposta é sempre a mesma, o Eurofestival. Gastámos muito no Eurofestival. Assim, o Eurofestival, que o próprio Dr. Gonçalo Reis tinha garantido à CT que nunca seria pago pelos trabalhadores, transformou-se no alibi perfeito para os manter parados salarialmente.
Quando a CT questionava acerca dos custos reais do Eurofestival, a resposta que obtinha era sempre redonda e nunca objectiva, até que no dia 13 de Setembro, o Presidente da RTP, Dr. Gonçalo Reis, questionado por um deputado da Comissão de Cultura da Assembleia da República, esclareceu finalmente que a RTP gastou cerca de 19,5 milhões de euros no Eurofestival e teve uma cobertura de 80% desse valor, ou seja a RTP gastou 3,9 milhões no evento. Mais disse o senhor presidente que naquele momento podia garantir aos deputados que a RTP iria obter resultados positivos "tranquilamente".
Então mas, se a RTP gastou menos do que se esperaria no Eurofestival, vai atingir resultados positivos tranquilamente e pode aumentar apresentadores entrando na loucura televisiva deste Verão, porque é que não pode fazer reenquadramentos profissionais dos seus trabalhadores?
A CT não sabe, e por isso mesmo é que apoia o pedido de auditoria às contas da RTP feito pelo Conselho de Opinião.
Mas, mais do que uma auditoria, o que a CT deseja que o Conselho de Administração entenda é que nem a empresa nem os seus trabalhadores aguentam mais uma filosofia que, ao contrário do lema antigo de "evolução na continuidade", parece basear-se numa de "estabilidade na decadência".
Se este Conselho de Administração tem um plano para mudar o rumo da RTP, resolver a degradação técnica da empresa e o caos dos seus recursos humanos é tempo de dizer qual é, de o explicar e de o quantificar, senão o fizer, é tempo de passar a palavra aos trabalhadores para, através das formas de pressão ao seu dispor, mudarem a empresa. Basta de contemporizações.
Esta é uma questão maior do que a gestão. É uma questão de supervisão, do Conselho Geral Independente e acima de tudo, de decência.
Se há aumentos para os apresentadores, então … e os trabalhadores?
P.S. - A CT informa que reunirá com o CA no dia 24 deste mês.

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